Integrantes, são muitos. Gilianne Santos, Bruno Ribeiro, Yuri Pappas, Bruno Br, Vitor Peixoto, Daniel Soares e Marcelo Marques dão vida a instrumentos tão plurais quanto as possibilidades musicais que experimentam. Neste universo, coexistem voz, percussão, contrabaixo, escaleta, flauta doce, violões, bandolim, bateria e um punhado de talentosos músicos.
Plurais, sim. Seria injusto enquadrá-la num só gênero: a Gato Zarolho transita por todas as nuances musicais que a criatividade permite e despe-se de qualquer rótulo que lhe queiramos atribuir. Entre samba, rock, pueril e profano, os cinco anos de estrada da banda trouxeram no Olho Nu Fitando Átomo, o primeiro rebento, a sua síntese.
Nas letras, poesia, prosa, o cotidiano fantástico, a fantasia plausível. Inspiração? Eles foram buscar nos pormenores do dia-a-dia, tão invisíveis quanto belos. A missão foi cumprida – com maestria, diga-se de passagem – e Olho Nu Fitando o Átomo é uma reflexão: o pensamento fugaz que nos assalta de raro em raro e que poucos conseguem capturá-los em palavras.
O cartão de visitas é a incrédula canção “A Inês é Morta”, uma mescla de rock e jazz que ministra, em leves doses de ironia e expressões banais, o frustrante sentimento de ‘tarde demais’.
Em seguida, vem “Alasca”, um genial tratado sobre a condição humana. Com ares de baião, a segunda faixa, introduzida por um trecho ao contrário, exprime o quanto, a despeito dos anos e das distâncias, somos diferentes, porém iguais: ‘entre a caverna e o laser, os homens são o que são’.
“É Com Você e a Sorte” é talvez a mais bela canção de Olho Nu Fitando Átomo, e aqui esta que vos fala não se arrisca a tecer maiores comentários ou tentativas de interpretação. Merece, e muito, ser ouvida. Ponto.
Chegamos à quarta música: a meiga “O Mágico” revela o lado mais leve deste prisma multifacetado. Singela e graciosa, “O Mágico” tem um ar quase circense e versa sobre a ingenuidade e a inocência.
“A elegia do duende que perdeu sua fada” veste de cotidiano a fantasia de gnomos, sacis e outros seres mágicos. Caos, urbanidade e o fantástico se entrelaçam nesta canção não tão sacra nem tão santa que nos instiga a não perder a poesia que nos habita.
A sexta faixa é “Samba Safado prum Dia Triste”, um melancólico e atrevido samba sobre a tristeza, o “luxo triste de chorar” e sobre não se render a esta indesejável.
“Farsa”, assinada por Marcelo Marques e Milton Rosendo, miscigena diversos ritmos e intrinca na lírica de seus versos o quão arbitrária é a palavra e o quanto ela não passa de uma convenção: “um pardal que disse pode conotar torso / quiçá outro nome para a palavra sonho”.
“João Sakura” talvez aluda, com simplicidade, à efemeridade das modas. Numa letra mais direta que a maioria das outras canções do disco, Marcelo Marques prova nesta faixa que grandes significados cabem em poucas palavras.
“Trajetória” é uma tripla parceria. Marcelo Marques, Bruno Ribeiro e Igor Brasa se uniram e, colocando ritmos da terra numa nova roupagem, narraram a saga de sonhos, sangue e lutas de Lampião e de sua Maria Bonita. A simplicidade foi mais uma vez a mestra da composição.
Os garotos da GZ viram trovadores na épica “Fabula Trancosi”, uma narrativa ao estilo dos poemas antigos, cujo protagonista é Trancosis, “discreto, como o mais comum dos homens”.
Olho Nu Fitando o Átomo, como não poderia deixar de ser, tem suas portas fechadas com o nobre metal. “Bossa Atômica”, outra parceria da dupla Marques e Rosendo, que mistura samba, bossa e aliterações no que parece uma afirmação de brasilidade pura.
As mesmas palavras que se curvam aos talentosos integrantes da GZ não são boas o bastante para uma análise absoluta do disco – aliás, a música em si não é absoluta. Como uma forma de arte, é o conjunto de respostas, para as quais nos resta criar as perguntas. Estejam à vontade para questionar: Olho Nu Fitando Átomo é um convite mais que incisivo.
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